O que você precisa saber sobre direito empresarial para clínicas odontológicas?
Nos bastidores de um consultório ou clínica, existe uma empresa que deve ser administrada conforme as legislações vigentes. Como gestor, é fundamental compreender os aspectos do direito empresarial que impactam diretamente o funcionamento e o sucesso do negócio.
O direito empresarial, nesse contexto, é essencial para garantir que todas as operações sejam realizadas de forma legal e eficiente, protegendo o patrimônio do gestor e a reputação do negócio. Entender como ele funciona quando aplicado ao setor odontológico é essencial para evitar problemas legais, garantir o crescimento sustentável e operar com segurança jurídica.
Neste artigo, vamos apresentar um guia informativo sobre os aspectos mais relevantes do direito empresarial para clínicas odontológicas.
O que é direito empresarial?
O direito empresarial é o ramo do direito que regula as atividades comerciais e empresariais, abrangendo desde a abertura de empresas até a gestão de contratos e a resolução de conflitos. Para clínicas odontológicas, ele é fundamental para garantir que o negócio opere legalmente, com foco na proteção jurídica do proprietário e no cumprimento de obrigações legais.
Ele engloba regras e normas sobre a constituição, gestão, funcionamento e encerramento de negócios, além de lidar com contratos, relações comerciais e direitos trabalhistas.
No caso das clínicas odontológicas, aplicam-se a todas as questões jurídicas relacionadas ao funcionamento do consultório como uma empresa, incluindo desde a escolha do modelo jurídico até a administração de contratos com parceiros e fornecedores. Entre os pontos importantes que o direito empresarial pode auxiliar as clínicas odontológicas, destacamos:
- Prevenção de problemas jurídicos;
- Otimização da gestão do negócio;
- Proteção contra possíveis litígios com sócios, colaboradores ou fornecedores;
- Regularidade no pagamento de tributos e encargos;
- Escolha do regime societário;
- Contratos comerciais e trabalhistas;
- Compliance e regulação sanitária;
- Propriedade intelectual (marcas e patentes);
- Questões tributárias e fiscais.
Compreender essas áreas ajuda o gestor na estruturação de sua clínica de uma maneira eficiente, sólida e conforme com as normas de setores como o Conselho Federal de Odontologia.
Como o direito empresarial se aplica a clínicas odontológicas?
Agora que você tem ideia de como o direito empresarial conversa com o funcionamento das clínicas odontológicas, entenda nos próximos tópicos como ele se aplica às clínicas odontológicas.
Escolha do modelo jurídico da clínica
O primeiro passo para estruturar uma clínica odontológica é a definição do modelo jurídico. Essa escolha impacta a tributação, a gestão do negócio e a responsabilidade dos sócios. Entre as opções mais comuns, estão:
Empresário individual
Ideal para clínicas de pequeno porte e gestão individual, mas com responsabilidade ilimitada do gestor. O dentista atua como pessoa física com registro no CNPJ. É um formato simples, mas não separa o patrimônio pessoal do empresarial, aumentando os riscos de perda do patrimônio pessoal em caso de dívidas adquiridas pela clínica.
Sociedade Limitada (LTDA)
Permite a atuação de dois ou mais sócios, com responsabilidade limitada ao capital social investido. É o modelo mais comum para clínicas e consultórios com mais de um sócio responsável, oferecendo proteção patrimonial aos sócios, limitando a responsabilidade do capital social. Esse modelo é ideal para clínicas que pretendem incorporar outros serviços e parceiros, oferecendo maior flexibilidade em termos de administração e expansão.
Sociedade simples
Indicada para atividades intelectuais, como as odontológicas, com regras menos complexas, mas sem separação de bens pessoais e empresariais. Essa estrutura também é voltada para prestadores de serviços conjuntamente, como dentistas associados. É uma opção menos complexa do ponto de vista tributário, mas pode limitar o crescimento da clínica.
Sociedade limitada unipessoal
Opção mais moderna, que combina os benefícios de uma sociedade limitada sem a necessidade de sócios.
Empresa individual de responsabilidade limitada
Voltada para dentistas que desejam abrir uma clínica sem sócios, oferecendo separação entre os bens pessoais e os bens da empresa, ou seja, ideal para dentistas que querem atuar como empresários individuais, mas com maior proteção patrimonial.
Cada modelo tem implicações legais e tributárias específicas, a escolha deve considerar o porte da clínica, os objetivos e o nível de risco que o gestor está disposto a assumir. Alguns fatores que você deve considerar são: número de sócios, faturamento previsto, necessidade de proteção patrimonial e exigências tributárias.
Escolha de contratos
Os contratos são instrumentos indispensáveis para regulamentar as relações comerciais das clínicas odontológicas. Eles garantem direitos, deveres e protegem contra possíveis litígios.
Alguns dos contratos importantes para o gestor são:
Contrato social: estabelece a regra das sociedades entre os sócios. Neste documento devem estar registrados a divisão de responsabilidades, o percentual de participação nos lucros e as regras de entrada e saída de sócios. Um bom contrato evita conflitos e define como serão as tomadas de decisão. É um documento básico para a abertura da empresa.
Contrato de locação: regula o uso do imóvel onde a clínica está instalada.
Contrato de prestação de serviços: formaliza a relação com fornecedores e parceiros. Estabelecer esses contratos claramente é crucial para assegurar a entrega de materiais e serviços. Cláusulas sobre prazos, qualidade e penalidades por descumprimento são indispensáveis.
Contrato de trabalho: define as condições de emprego de colaboradores administrativos e assistentes odontológicos. Regulam a relação com funcionários e parceiros. Para evitar problemas trabalhistas, é importante definir claramente as condições de vínculo.
Para lhe auxiliar na construção desses contratos, recomendamos a contratação de um advogado especializado, se certificando de que todos os termos estão claros e de fácil entendimento para os envolvidos, além da inserção de cláusulas de rescisão e penalidades em caso de descumprimento.
Escolha da tributação a ser utilizada
Entender as opções tributárias disponíveis é essencial para minimizar os custos e evitar problemas com o fisco. Se você quiser aprofundar seu conhecimento sobre esse assunto, clique aqui.
Os principais regimes tributários para clínicas odontológicas são:
Simples nacional: indicado para empresas de pequeno porte, com alíquotas reduzidas e simplificação no pagamento de tributos. É indicado para empresas com faturamento anual de até R$ 4.8 milhões de reais.
Lucro presumido: ideal para clínicas de médio porte, onde o cálculo do imposto é baseado em um percentual da receita. Escolha ideal para clínicas com margem de lucro superior ao percentual presumido pelo governo.
Lucro real: obrigatório para empresas com faturamento elevado ou que tenham despesas significativas que possam ser deduzidas. É baseado no lucro líquido apurado, recomendado para clínicas com margens de lucro mais apertadas ou com necessidade de deduzir despesas operacionais.
A escolha do regime tributário deve ser feita com o apoio de um contador especializado, considerando o faturamento, as despesas e a margem de lucro da clínica.
Além da escolha do regime tributário, sua clínica também deve pagar tributos importantes como:
- Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ).
- Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
- Programa de Integração Social (PIS).
- Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).
- Imposto Sobre Serviços (ISS).
Processos de compliance e regulamentação no setor odontológico
O compliance empresarial é um conjunto de práticas que garantem que a clínica esteja seguindo a legislação vigente. Sua clínica deve cumprir rigorosamente as normas da Vigilância Sanitária e os requisitos de órgãos como o Conselho Federal de Odontologia. O não cumprimento dessas exigências podem resultar em multas ou até mesmo no fechamento do estabelecimento.
Alguns pontos de atenção são:
- Registro no CRO (Conselho Regional de Odontologia), todas as clínicas devem estar devidamente registradas para operar;
- A clínica deve obter alvarás sanitários e de funcionamento junto aos órgãos municipais e estaduais;
- Seu negócio deve seguir a regulamentação ambiental para descarte de materiais contaminados.
Relações trabalhistas e contratações
Os gestores de clínicas odontológicas devem estar atentos às regras trabalhistas para evitar passivos jurídicos. A compreensão de tais regras podem evitar processos judiciais e multas.
Algumas das práticas recomendadas incluem:
- Formalização de contratos de trabalho claros para todos os colaboradores;
- Respeito à CLT e suas exigências, como o pagamento de benefícios obrigatórios;
- Oferecer um ambiente de trabalho seguro e adequado, seguindo as normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho;
- Contratos específicos para prestadores de serviços autônomos ou temporários.
Ao contratar um colaborador, três tipos de contratação são os mais comuns:
CLT: formato que oferece maior segurança jurídica para o colaborador, mas pede o cumprimento de obrigações como pagamento de encargos trabalhistas.
Pessoa jurídica: permite maior flexibilidade, mas deve ser bem estruturada.
Contrato de parceria: regulado pela Lei 13.352/2016, é utilizado para formalizar a relação entre dentistas parceiros e a clínica.
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