Genética e cáries dentais: a genética pode favorecer as cáries?
Ao que parece genética e cáries dentais não guardam relação. Foi o que um estudo australiano recente evidenciou. Demonstrando que a composição genética não predispõe as pessoas às cáries dentais.
No entanto, a pesquisa descobriu que crianças com mães com excesso de peso são mais propensas a ter cáries .
Este estudo foi baseado em um artigo publicado na última edição da revista Pediatrics. Estima que uma em cada três crianças australianas tem cáries no momento em que começam a frequentar a escola.
Metodologia do estudo – relação da genética e cáries dentais
O estudo analisou os dentes de 173 pares de gêmeos (idênticos e não-idênticos). Do período da gravidez até os seis anos de idade .
A relação entre a genética e cáries dentais não tem sido muito estudada.
O estudo em questão é o primeiro que analisa a genética de gêmeos e sua relação com doença e estilo de vida .
Descobrimos que gêmeos idênticos, com genomas idênticos, têm graus variados de cárie .
Assim, fatores ambientais, como a falta de flúor na água, parecem ser a principal causa de cáries dentais e não da genética .
Influência da mãe na saúde bucal da criança
A pesquisa encontrou uma ligação entre a saúde e o estilo de vida da mãe durante a gravidez e a futura saúde bucal da criança .
A obesidade na gravidez aparece como um marcador de risco aumentado de cárie dentária infantil nesta pesquisa.
A relação entre obesidade materna e cárie dentária infantil é complexa .
Talvez o peso da mãe tenha uma influência biológica no feto em desenvolvimento. Ou talvez o risco de cáries se eleve devido ao aumento do consumo de açúcares por parte das crianças.
Resultados – em números
Um em cada três dos gêmeos estudados (32,2 %) apresentou cárie dentária. Quase um em cada quatro (24,1 %) apresentou cáries em estágio avançado.
O pesquisador reafirma que as pessoas não devem levar em conta a relação da genética com as cáries dentais.
Pessoas que acham que a saúde de seus dentes está ligada à sua genética estão equivocadas.
Acreditando na hipótese genética, as pessoas podem assim não estar preparadas para fazer mudanças importantes no estilo de vida. Afirmou o pesquisador.
Educação em saúde
Os resultados reforçam o quanto importante é para dentistas e pais a educação das crianças nos primeiros anos de vida.
Educação para com os cuidados preventivos a fim de prevenir o aparecimento das cáries dentais.
Cuidar da saúde bucal é cuidar da saúde do corpo
A cárie dentária é um sério problema de saúde. Existem fortes evidências da ligação entre cáries infantis e o desenvolvimento de diabetes e doenças cardiovasculares mais tarde na vida. Já destacamos aqui no blog Dentalis neste artigo a relação entre uma saúde bucal precária e os consequentes riscos à saúde do corpo.
A cárie dental também é a principal causa de internação hospitalar evitável em crianças australianas, o estudo apontou.
Em 2011, no Departamento de Saúde de Victoria (Austrália), mais de 26.000 australianos com menos de 15 anos de idade tiveram internação hospitalar para tratamento de cárie dental.
Estudo com gêmeos
O estudo demonstrou as vantagens da pesquisa com gêmeos . Possibilita a descoberta da relação entre as condições de saúde, efeitos da vida precoce e fatores de risco. Além, é claro, da relação entre a herança genética e cáries dentais.
É importante que essa pesquisa seja replicada em outros estudos que acompanham crianças até a idade adulta . Importante também que outros fatores de risco para a cárie dentária sejam analisados.
Estudo – quem foram os pesquisados
Este último estudo coletou dados sobre os gêmeos com 24 e 36 semanas de idade gestacional, no nascimento, 18 meses e seis anos de idade. Isso incluiu um exame odontológico aos seis anos de idade.
Questionários sobre o peso da mãe, doenças, uso de medicamentos, níveis de vitamina D, estresse, consumo de álcool e tabagismo foram coletados durante a gravidez.
O Outro lado
A pesquisadora e professora do Programa de Pós-Graduação em Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, Erika Calvano Kuchler, investigou marcadores genéticos específicos do DNA.
Marcadores que mostram as diferenças entre duas ou mais pessoas da população brasileira, para avaliar se existe relação entre genética e cáries dentais .
O objeto do estudo foi identificar a possibilidade de que a variação em microRNAs pode estar envolvida na susceptibilidade de uma pessoa apresentar cárie dentária. Os microRNAs são estruturas genéticas conservadas ao longo da evolução que regulam a expressão do DNA.
É possível que microRNAs funcionem como um biomarcador para a cárie , de acordo com o perfil genético do paciente.
Isso explicaria o fato de existirem pessoas que sofram de cáries dentais mesmo tendo cuidados com a higiene bucal , segundo a pesquisadora.
A pesquisa
Foram selecionadas 222 crianças de Ribeirão Preto, 678 do Rio de Janeiro e 90 de Manaus. Elas tiveram saliva coletada como fonte de DNA genômico. Os resultados preliminares do estudo nessas três populações apresentaram diferenças genéticas entre as crianças para propensão à cárie dental.
Ao que parece o ambiente em que a criança está inserida pode influenciar na doença, assim como a genética.
Para alcançar uma informação mais relevante possível, a pesquisadora deseja ampliar o estudo para toda a população nacional.
Quando ocorrer a finalização dos estudos que investigam genética e cárie dentais, será possível identificar o conjunto de genes que são associados ao maior risco de aparecimento das cáries. Assim como detectar bem cedo crianças com maior predisposição, além de possibilitar que o tratamento seja feito de forma mais intensa e preventiva.
Os resultados dos trabalhos da pesquisadora Erika Calvano Kuchler, que faz parte do projeto Jovem Pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), podem ser encontrados em artigos na revista Caries Research e na Archives of Oral Biology.
Concluindo
Analisando os dois trabalhos chega-se à uma conclusão .
A cárie dental seria o resultado de uma dupla influência: genética e ambiental .
O quanto em termos percentuais cada uma delas contribui em maior proporção para o desenvolvimento das cáries dentais é algo que futuras pesquisas irão esclarecer.
Fontes: ScienceDaily e Jornal da USP
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